Reflexão
Cor 11,1-16 – Exegese sobre o texto bíblico sobre o uso do véu
Por
Donald P. Goodman III – Tradução do inglês por Carina Caetano
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1Sede meus imitadores, como também eu de Cristo. 2E
louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos
como vo-los entreguei. 3Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça
de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.
4Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça
coberta, desonra a sua própria cabeça. 5Mas toda a mulher que ora ou
profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como
se estivesse rapada. 6Portanto, se a mulher não se cobre com véu,
tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou
rapar-se, que ponha o véu. 7O homem, pois, não deve cobrir a cabeça,
porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. 8Porque
o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. 9Porque também
o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. 10Portanto,
a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. 11Todavia,
nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. 12Porque,
como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo
vem de Deus. 13Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a
Deus descoberta? 14Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra
para o homem ter cabelo crescido? 15Mas
ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em
lugar de véu. 16Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos
tal costume, nem as igrejas de Deus. (Cor 11,1-16)
O que segue é uma simples exegese/reflexão do
texto. Simples porque a exegese mais complexa seria feita com a reflexão total
do texto em um artigo. Por agora, gostaria de fazer uma interpretação do texto,
utilizando das palavras de São Paulo e dando às palavras o seu real
significado. Essencialmente, São Paulo está dizendo que o véu – do latim velare, cobrir – é necessário para
mostrar a relação entre o homem, a mulher e Deus.
Essa leitura é inteiramente clara. São Paulo
começa explicando que “a cabeça de todo homem é Cristo; e a cabeça da mulher é
o homem; e a cabeça de Cristo é Deus.” Aqui ele está desenhando uma analogia
clássica, que sempre foi utilizada na história da igreja, particularmente na
explicação do sacramento do Matrimônio: que o homem é para a mulher o que
Cristo é para a Igreja. A cabeça do homem, São Paulo explica, é Cristo; a
cabeça da mulher é o homem. Ele ainda nos dis que o homem “é a imagem e a
glória de Deus; mas a mulher é a glória do homem.” Ele ainda observa que “o
homem não é da mulher, mas a mulher é do homem”. A analogia de Deus e do homem
e do homem e mulher são claras, e definitivamente não são desconhecidas para
São Paulo (Cor 11, 3; Cor 11,7-8).
de fato, São Paulo é o mais odiado pelas
feministas modernas por causa também da formulação da sua teoria na Epístola
aos Efésios. Lá, São Paulo faz a analogia mais explicitamente, mas pode ser
facilmente reconhecida como a mesma analogia que refletimos anteriormente: “Que
as mulheres sejam submetidas aos seus maridos, assim como ao Senhor: porque o
marido é a cabeça da esposa, como Cristo é a cabeça da igreja, Ele é o salvador
do corpo. Da mesma maneira que a igreja é submissa a Cristo, que as esposas
sejam também para os seus maridos em todas as coisas. Maridos, amai suas
esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela.” (Ef 5.
22-25).
As similaridades entre as passagens são claras: o texto do véu e este
texto dos Efésios expressam a mesma analogia:
Homem x Mulher em
analogias divinas
Homem
|
Mulher
|
Deus
|
Cristo
|
Cristo
|
A Igreja
|
Cristo
|
Homem
|
Imagem de Deus
|
Imagem do homem
|
Contemplação
|
Razão prática
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St.
Perpetua - Early Christian mosaic
São Paulo então utilize esta analogia para justificar seu requerimento
que as mulheres cubram suas cabeças. Depois de nos lembrar que “o homem não foi
feito para a mulher, mas a mulher para o homem”, ele nos diz que “Portanto, a mulher deve
ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos,”. Pode-se então
concluir que este “poder” que ele diz é o véu, mencionado anteriormente; ele
argumente que, porque o homem é para a mulher o que Cristo é para a humanidade,
uma mulher deve ser velada. Esta é a inevitável leitura do texto, se ele for
lido cuidadosamente (Cor 11,9-10).
São Jerônimo traduz esta passagem como “deo
debet mulier potestatem habere supra caput” [“portanto a mulher deve vestir
(símbolo do homem) o poder que está acima de sua cabeça”]. Vemos que São
Jerônimo deu uma tradução literal, e consequentemente não revela completamente
seu significado. O grego, de acordo com Liddell e Scott, traduz para “poder” ou
“autoridade”.
Este poder, portanto, não é simplesmente um
jeito estranho de dizer “cobrir-se”; isso significa, literalmente, poder ou
autoridade. A mulher não precisa de algo para se cobrir em sua cabeça, ela
precisa de autoridade sobre sua cabeça (“supra
caput”). São Paulo está dizendo sobre a autoridade que está sobre a mulher,
assim como Deus é a autoridade sobre a humanidade. A mulher, portanto, precisa
de “autoridade” sobre sua cabeça; o véu para cobrir representa esta autoridade.
São Paulo está configurando o véu como um sinal da submissão da mulher ao
homem.
O fruto desta doutrina de submissão e
cobrir-se é o simplesmente representada pelo véu cobrindo a mulher, que dá
testemunho às maiores verdades do Catolicismo. Ela proclama simplesmente pela
sua cabeça coberta que Deus é maior que o homem; que o homem é o líder dentro
da humanidade e que a mulher é submissa ao homem. Ela também proclama sua submissão pessoal a Jesus Cristo, ao seu
marido, se for casada, e aos seus superiores, se for solteira. Um mero
vestuário representa todas essas coisas para um mundo duvidoso. A mulher é
privilegiada para ser capaz de usar um véu.
Essa analogia de Cristo e a humanidade assim
como para o homem com a mulher também estende ao relacionamento de Deus com sua
Igreja. Isto é, o homem é para a mulher, assim como Cristo é para a Igreja,
assim como refletido por São Paulo. Então se uma mulher que cobre sua cabeça
ela está proclamando a submissão da Igreja à Cristo. Cobrir-se simboliza a
submissão universal a Cristo Jesus. Além disso, por uma extremidade, a mulher
anuncia a analogia, mas por outra, também anuncia o Evangelho.
A mulher coberta está dando testemunho do
fato de que ela declara que seu marido a ama, assim como Cristo ama a Sua
Igreja, e que Deus cuida amorosamente a humanidade, assim como "também
Cristo amou a Igreja e se entregou por ela." - e muito melhor do que - o
marido assiste amorosamente sobre ela. Este simples pano sobre a cabeça, quando
entendido dessa maneira, é um poderoso testemunho da fé católica; felizes são
as mulheres que com tão simples gesto podem proclamar essas verdades nobres!
Na Dormição da Virgem Maria, Nossa Senhora
e as mulheres de luto são retratados com as coberturas
de cabeça tradicionais
São Paulo ilustra essa verdade fazendo referência a
costumes relativos ao cabelo. Ele argumenta que os homens que têm o cabelo
curto é o mesmo que lhes manter suas cabeças descobertas, que simboliza a sua
autoridade sobre a mulher e da autoridade de Cristo sobre a Igreja. Da mesma
forma, as mulheres que têm cabelo comprido é o mesmo que lhes manter suas
cabeças cobertas, que simboliza a sua submissão ao homem, e a submissão da
Igreja a Cristo. Embora isso possa parecer um costume local, São Paulo pede e
ensina aos Coríntios que o homem, na
verdade, se deixar o cabelo crescer será uma desonra. Mas se uma mulher deixar
seus cabelos crescerem é uma glória para
ela, pois seu cabelo é dado a ela por uma cobertura. O costume do véu, então,
se reflete na natureza. Mulheres com os cabelos longos refletem a natureza da
sua beleza externa. E os homens mantendo seus cabelos curtos porque,
naturalmente, isso também reflete sua própria autoridade. O véu é como
aperfeiçoar simbolismo da natureza. (Cor 11,14-15).
Mas São Paulo não diz que "o cabelo é
dado a ela como uma cobertura?" Por que, então, ela precisa usar o véu,
quando ela já está coberta? Pela mesma razão que usam anéis de casamento, mesmo
que o Sacramento permaneça sem eles. Os homens precisam de sinais artificiais
de realidades naturais. Pode-se também perguntar por que o padre usa vestes,
quando o simples fato de oferecer a missa é um sinal de sua autoridade. São
Paulo exige que as mulheres cubram suas cabeças, além de seus cabelos longos,
enquanto "orando e profetizando", dizendo que, se fizerem ao
contrário, é como se estivessem carecas. (Cor 11,5).
Se ele estivesse se referindo apenas ao
cabelo longo da mulher, depois de orar e profetizar seria uma analogia
supérflua. Assim, São Paulo estava definitivamente falando de uma cobertura
real sobre a cabeça da mulher para além da cobertura natural, pelo menos
enquanto orando e profetizando. Em outras vezes, ao que parece, o cabelo por si
só é suficiente símbolo de sua submissão ao marido.
Esta, pelo menos, é o que me parece ser a
única interpretação coerente do texto antes de ouvir as palavras da Igreja
sobre o assunto. O que a Igreja ensinou sobre essas passagens? A Igreja não tem
ensinado infalivelmente nada em relação à sua interpretação. No entanto, muitos
grandes pensadores têm abordado estes versos, inclusive Padres e Doutores da
Igreja. Vou examinar suas opiniões sobre o seu significado, e só então formar
opinião própria.
[As reflexões seguirão com textos e estudos
de Doutores da Igreja: São João Crisóstomo, Santo Ambrósio de Milão, Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino]
Aguardem, meninas!