A colaboração da mulher
na Igreja

Por Carina Caetano
Existe na mulher a capacidade física de dar a vida.
Vivida ou potencial, essa capacidade é uma realidade que estrutura em profundidade
a personalidade feminina. Permite-lhe alcançar muito cedo a maturidade, sentido
da gravidade da vida e das responsabilidades que a mesma implica. Desenvolve em
si o sentido e o respeito do concreto, que se opõe às abstrações, muitas vezes
mortais para a existência dos indivíduos e da sociedade. É ela, enfim, que,
mesmo nas situações mais desesperadas — a história passada e presente são
testemunho disso —, possui uma capacidade única de resistir nas adversidades;
de tornar a vida ainda possível, mesmo em situações extremas; de conservar um
sentido tenaz do futuro e, por último, recordar com as lágrimas o preço de cada
vida humana.
Entre os valores fundamentais relacionados com a vida
concreta da mulher, existe o que se chama a sua “capacidade para o outro”. Não
obstante o fato de um certo discurso feminista reivindicar as exigências “para
ela mesma”, a mulher conserva a intuição profunda de que o melhor da sua vida é
feito de atividades orientadas para o despertar do outro, para o seu
crescimento, a sua proteção.
No que diz respeito à Igreja, o sinal da mulher é
eminentemente central e fecundo. Depende da própria centralidade da Igreja, que
o recebe de Deus e acolhe na fé. É esta identidade “mística”, profunda,
essencial, que se deve ter presente na reflexão sobre os papéis próprios do
homem e da mulher na Igreja.
A existência de
Maria é um convite à Igreja para basear o seu ser na escuta e no acolhimento da
Palavra de Deus, porque a fé não é tanto a procura de Deus por parte do ser
humano, mas é, sobretudo, a aceitação por parte do homem de que Deus vem até
ele, visita-o e fala-lhe.
Sempre em
Maria, a Igreja aprende a conhecer a intimidade de Cristo. De Maria, a Igreja
aprende o sentido do poder do amor, como Deus o exerce e revela na própria vida
do Filho.
Olhar para
Maria e imitá-la não significa, todavia, voltar a Igreja a uma passividade
inspirada numa concepção superada da feminilidade, e condená-la a uma
vulnerabilidade perigosa, num mundo em que o que conta é, sobretudo, o domínio
e o poder. Na verdade, o caminho de Cristo não é nem o do domínio (cf Fil 2,6),
nem o do poder como o entende o mundo (cf Jo 18,36). Do Filho de Deus
pode aprender-se que esta “passividade” é, na realidade, o caminho do amor; é
um poder régio que derrota toda a violência; é “paixão” que salva o mundo do
pecado e da morte e recria a humanidade. Confiando ao apóstolo João a sua Mãe,
o Crucificado convida a sua Igreja a aprender de Maria o segredo do amor que
triunfa.
As mulheres,
portanto, são chamadas a serem modelos e testemunhas insubstituíveis para todos
os cristãos de como a Esposa deve responder com amor ao amor do Esposo,
manifestando o rosto da Igreja como mãe dos fiéis.
Inspirados pela
dignidade comum e no recíproco reconhecimento e colaboração do homem e da mulher
na Igreja, como imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26), cada um segundo a graça
que recebeu, é que, guiados pelo Espírito Santo, faremos uma breve reflexão
sobre o uso piedoso do véu de forma a exaltar Jesus Cristo, recordando uma
tradição por anos esquecida, porém atualizada no Senhor que renova todas as
coisas (Ap 21,5).
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